A Escola de São Vitor era formada por cônegos agostinianos, que viviam numa abadia parisiense chamada São Vitor. Conhecida por suas tendências à mística acabou tornando-se, no século XII, o segundo paradeiro da mística cristã, ao lado dos cistercienses. Seus maiores expoentes foram: Hugo de São Vitor e seu aluno Ricardo de São Vitor.
Hugo nasceu 1096, era descendente de nobres. De origem saxônica, veio muito cedo a Paris onde teve por orientador o Prior Tomás, a quem sucedeu na escola. Hugo é teólogo de alto nível, tentou reunir o essencial das ciências sacras e profanas, ordenando-as para a contemplação de Deus. Intransigente quando se queria estudar o profano pelo profano, mas como místico instruidíssimo, não rejeitava nenhum saber que pudesse ser orientado para o amor a Deus. Morreu cedo, aos 44 anos de idade, em 1141.
O Didascalicon, obra de 1127, é composto de seis livros. Foi um dos primeiros escritos de Hugo e, do ponto de vista filosófico, o mais significativo. Na verdade, na íntegra a obra se chama: Didascálicon de Studio Legendi. No Prefácio, o autor, didaticamente, arrazoa o que pretende ensinar. Basicamente são três coisas, seguindo esta ordem: primeiro, o que se deve ler; segundo, em que ordem se deve ler; finalmente, como se deve ler.
Ora bem, com este intuito o autor divide a obra em duas partes. Na primeira parte trata do estudo das ciências, segundo esta ordem: primeiro, estabelece quais são elas; segundo, elenca qual seja a origem de cada uma delas e quais foram os seus inventores; terceiro, discrimina qual a prioridade no que concerne à ordem a ser seguida no estudo de cada uma delas, prescreve também a disciplina de vida exigida para a leitura de cada uma. A segunda parte obedece à mesma ordem no que se refere aos livros divinos.
Na nossa abordagem iremos ater-nos a expor, concisamente, a concepção de Hugo condizente à origem da filosofia e das ciências que a compõem. Com este fito, a nossa exposição seguirá de perto todos os onze capítulos do livro I e II do Didascálicon e o primeiro capítulo do livro III. Eles compreendem uma parte da primeira parte da obra de Hugo, na qual ele disserta acerca da origem e divisão das ciências que compõem a filosofia.
Vamo-nos valer da recente tradução para o português do Didascálicon – Da arte de ler –, por Antonio Marchionni, lançado em edição bilíngue pela editora Vozes, em 2001. A divisão em tópicos foi cunhada por nós e não oferece uma fronteira rigorosa entre os temas tratados. Tem apenas uma finalidade didática, querendo chamar a atenção do leitor para alguns movimentos conceptuais do texto. As constantes referências aos termos latinos também não obedecem a uma ordem rígida, propõem-se tão somente destacar ao leitor algumas peculiaridades da língua do autor.